terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Aves sentem Cheiro?

 Podemos usá-los para melhorar a qualidade reprodutiva delas?


Recentemente a revista científica Behavioural Brain Research publicou uma revisão que fala sobre o sentido olfativo das aves e suas implicações na reprodução. Os autores são Jacques Balthazart e Mélanie Taziaux, profissionais da Universidade de Liège na Bélgica e é do trabalho deles que extraímos a maioria das informações desse artigo. Nessa revisão encontramos, por exemplo, que Bang, B. G. publicou em 1960 a primeira evidência anatômica funcional do bulbo olfativo (parte do cérebro) das aves na prestigiosa revista Nature. Esse pioneirismo foi crucial para o início de novas investigações que até os nossos dias tentam demonstrar o papel do olfato na biologia das aves.
Hoje em dia temos a evidência comprovada da existência de sistemas olfativos funcionais em várias espécies de aves e cada uma delas com particularidades incríveis.
As pombas-correio (Columba livia), por exemplo, sabemos que elas são sensíveis a ínfimas variações de odores no ambiente e que possuem um sofisticado sistema de “GPS” cheio de informações olfativas que as orientam em seus longuíssimos vôos de volta para casa.
Temos também os Kiwis, parentes das Emas, o Urubu de Cabeça Vermelha e os Petreis que são aves marinhas. Todos estes são capazes de encontrar sua comida através dos seus olfatos. Os petreis e outras aves de sua mesma ordem taxonômica sabem como encontrar na escuridão da noite o seu ninho dentre os milhares de outros que se avizinham ao seu nas encostas marítimas. Como se orientam? Como podem não pousar em ninho alheio? Resposta: elas buscam sentir o cheiro específico do ninho que construíram. Isso também acontece com as galinhas, que possuem memória olfativa que as ajuda a reconhecer odores familiares.
É sugerido por alguns pesquisadores que através do olfato o passeriforme europeu Blue Tit (Cyanistes caeruleus l.) seja capaz de perceber a presença de predadores em determinada área e assim fazer a melhor escolha para um lugar seguro onde ter seus filhotes.

Através de testes que medem o limite da capacidade olfativa foi possível saber, pelo menos em cinco espécies de nossos amigos passeriformes, que suas habilidades em perceber odores é semelhante àqueles encontrados para ratos e coelhos. Os pesquisadores que conduziram os testes de capacidade realizaram também um experimento que foi capaz de provar que os pássaros possuem senso olfativo desenvolvido e funcional.  Neste procedimento, um pássaro teve dois eletrodos implantados em seu corpo para aferir-se sua freqüência cardíaca e outros dois para que ela pudesse receber estímulos elétricos controlados. A gaiola estava equipada com um aparato capaz de expor a ave a estímulo olfativo (um perfume). Os estímulos elétrico e olfativo eram liberados em um mesmo momento. O estímulo elétrico sabidamente provoca um aumento da freqüência cardíaca da ave. Esse procedimento foi repetido muitas vezes de forma que a ave passou a associar o estímulo elétrico ao perfume. A prova definitiva seria se a freqüência cardíaca da ave aumentasse por um simples estímulo olfativo, sem a ocorrência do estímulo elétrico. Assim se fez, e assim se deu. Bastava que fosse liberado o odor para que o coração da ave batesse mais rápido. Provado! Ela sente cheiro sim, e mais, esse cheiro pôde interferir diretamente na fisiologia da ave.

Pois bem, e quanto ao comportamento reprodutivo das aves? O sentido do olfato está relacionado a ele? Quanto ele interfere nesse comportamento? Podemos usar esse conhecimento para algum dia poder melhorar o manejo reprodutivo de nossa criação? Conhecer alguns exemplos sobre isso certamente nos farão pensar. Vejamos adiante:
·        Pesquisadores impregnaram as penas de filhotes de pombo-de-colar com o odor artificial de maçã ou de frutas cítricas. Até então os seus pais os alimentavam regularmente. Porém, após a aplicação do odor, progressivamente, eles foram sendo abandonados.
·        Em outro experimento patos que tiveram seus nervos olfativos seccionados e por isso não podiam sentir cheiro perderam totalmente a capacidade de fazer sua dança, movimentos, sons e outras demonstração (displays) a machos concorrentes ou às fêmeas pretendentes. Os machos não mais montavam, copulavam ou agarravam as penas do pescoço das fêmeas como normalmente deveria ocorrer.
·        Descobriu-se que fêmeas de patos impregnadas artificialmente com odores frugais são preferidas pelos machos àquelas impregnadas por odores acres.
·        Auks (Aethia psittacula) que vivem nas águas geladas do hemisfério norte produzem naturalmente um odor de tangerina que impregna suas penas. A escolha de seus parceiros é dependente das características desse odor.

Os cientistas acham prematuro que possamos dizer que esses e outros odores descobertos em aves possam ser classificados como feromônios (produção química dos insetos que intermedeiam suas relações sociais). Porém, eles estão entusiasmados por seguir seus estudos adiante a fim de entenderem completamente o papel desses odores e do sistema sensorial olfativo nas aves.

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